A Viúva - Fiona Barton


Jean Taylor era a esposa perfeita e aguentou o julgamento do marido dignamente e sem dizer uma palavra à imprensa. Glen acaba sendo absolvido por um erro técnico da polícia, o que desperta a fúria da sociedade. E quando ele morre em um acidente, a viúva pode ser a única a ter respostas sobre o que aconteceu. E após anos de silêncio, Jean está pronta para falar.

O que me chamou atenção ao ler a sinopse de A Viúva foi justamente a premissa: uma mulher que apoia seu marido durante o julgamento por um crime bárbaro, o sequestro e assassinato de Bella, uma criança de dois anos. Com a morte do marido e com as investigações paradas, ela pode ser a única a saber sobre o que aconteceu com a criança.

Assim, o que eu esperava era que o cerne do livro se limitasse às interações entre Jean e Kate, a repórter que a convence a dar uma entrevista, voltando no tempo e revivendo todos os acontecimentos. A meu ver, o mais interessante não seria descobrir o que aconteceu, mas sim as reações e os pensamentos desta mulher. Isso por que Jean é uma personagem extremamente complexa e desvendar todas estas camadas me parecia promissor. Entretanto, esta não foi a abordagem escolhida pela autora.

A aceitação de Jean em conceder uma entrevista é apenas o estopim, mas a partir daí Barton retorna no tempo, contando a estória do desaparecimento de Bella por três perspectivas: o detetive Sparkes, o encarregado do caso; Kate, a repórter que cobriu a notícia e posteriormente convence Jean a falar; e a própria Jean a partir do momento que Glen se torna um suspeito. 

(Foto:Editora Intrinseca)

Creio que esta foi a abordagem errada, pois mais da metade do livro é destinada a mostrar como a investigação e o julgamento ocorreram. Entretanto, como o leitor já sabe desde o início que o resultado será a absolvição de Glen, investir tanto tempo em detalhar isso tudo se tornou cansativo e maçante. E como consequência direta desta abordagem, todo o potencial que Jean oferecia pareceu subexplorado, justamente por que em vez de dissecar a protagonista, Barton se perde em elucidar os detalhes do passado.

Mas o verdadeiro “tiro no pé” ocorre com a entrevista de Jean, pois o que poderia (e deveria) ter sido o ápice do livro, não é. Barton parece que pisa no acelerador e dá a impressão de estar com pressa de terminar a entrevista para seguir com a estória. Assim, os momentos que Jean poderia ter vocalizado todos os seus pensamentos sem medo de confrontar a verdade se esvaem. Mesmo que o leitor acompanhe o ponto de vista de Jean, tanto no desenrolar da investigação e julgamento, quanto durante os preparativos para a entrevista, a mesma parece manter uma fachada: no primeiro momento por que é submissa a Glenn e não se permite questionar o marido, no segundo por que está perdida em devaneios e pensamentos.

Quando a solução do caso vem à tona, a mesma causa frustração por ser uma resolução simplista. Se Barton tivesse optado por revelar toda estória através dos olhos de Jean, contando com os demais personagens como meros coadjuvantes, a resposta mais simples não teria causado frustração, afinal, esta não seria o cerne do livro. Entretanto, quando todo o suspense gira em torno de desvendar o que aconteceu com Bella, a resposta morna é pior que um banho de água fria.

Assim, apesar de todo o potencial que a estória e, principalmente, a protagonista tinham a oferecer, me pareceu que Barton pecou na execução e tornou o que poderia ter sido memorável em uma leitura que não empolga em nenhum momento.

Compartilhe:

Deixe seu comentário

0 comentários:

Postar um comentário